Nume é um projeto ousado para o momento do rap e do trap: 15 faixas autorais, com uma única participação especial de Maru2D na música “Acima de Mim Só Deus”. Com uma estética sonora que transita por todas as fases da sua carreira, Ret opta por um caminho sem feats para buscar algo essencial, com ênfase na lírica e na musicalidade. O artista convida o público a ir na direção ao que ele define como seu “núcleo intocável e incorruptível”.
O próprio nome do álbum – Nume – carrega um significado potente. A palavra “nume” vem do latim e se refere a uma divindade ou poder sagrado. Para Filipe Ret, esse conceito não é apenas um título, mas a essência do que ele pretende comunicar com sua música. Nume é o fechamento de uma trilogia iniciada com Imaterial (2021) e seguida por Lume (2022).
Desde o início de sua trajetória no rap, Ret se destacou por uma abordagem poética e filosófica, que o levou das batalhas de MCs na Lapa até os grandes festivais e shows pelo mundo. Em Nume, ele leva essa visão mais longe. Para ele, o álbum é um ponto sem retorno: “Nume completa minha trilogia ‘etérea’ de discos, que começou no álbum Imaterial e seguiu em Lume”, explica Ret. “Nume representa a fase madura, na qual eu integro o sagrado e o profano que tenho em mim, ambos convivendo de forma equilibrada como a força da natureza. Nume é meu núcleo intocável, incorruptível que me trouxe onde estou. O modo evoluído de um espírito rebelde”.
Mais do que um álbum, Nume é uma declaração de princípios, um manifesto que sintetiza a sua visão do mundo e de si mesmo. Desde a primeira faixa, “Da Onde Eu Venho”, até o encerramento, “Tua Fé”, as rimas intensas, o lirismo, o boombap e o trap aqui são alinhados com um propósito maior: expressar o que significa, para o artista, ter chegado à plenitude, como parte de algo divino e humano ao mesmo tempo.
A capa de Nume é um detalhe especial do projeto. Fotografada pelo filho de Ret, Theo (7 anos), a imagem revela o artista olhando diretamente para a câmera, com uma expressão que parece conter memórias e sonhos, esperanças e desafios. Theo capturou o pai durante as gravações dos visualizers das músicas, em um momento de sintonia entre arte e família. O gesto de intimidade reflete a natureza pessoal e reflexiva de Nume, que se mostra um resgate de suas origens e um retorno ao essencial, ao mesmo tempo que aponta para o futuro.
Na construção sonora de Nume, Ret trabalhou com três beatmakers que marcam diferentes fases de sua carreira. MãoLee, parceiro de longa data, que o acompanhou no começo, se reuniu ao projeto, junto com Dallass, parceiro mais recente, e Marquinho no Beat. Essa combinação de produtores permite que Nume explore uma ampla gama de sonoridades, passeando entre o boombap e o trap, com letras e batidas que refletem as diferentes facetas de Ret.
Para Ret, não ter feats no álbum foi uma escolha filosófica. Ele optou por explorar suas próprias percepções e emoções sem influências externas, em uma tentativa de capturar algo que talvez só pudesse ser dito sozinho. “Ao contrário do que temos visto na cena do rap e do trap, não ter feats foi uma questão muito defendida por mim, justamente para manter uma integridade filosófica desse momento que eu estou vivendo”, explica. Ret nos convida a ver o mundo através de seus próprios olhos, sem intermediários, num retrato íntimo e honesto de sua fase atual.
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