Há alguns anos, era difícil de pensar em uma funkeira, preta e favelada estrelando a capa de uma revista. Quebrando padrões e preconceitos, a Mc Carol é a capa da edição de moda da revista Elle, que é focada em beleza.
A cantora e compositora de 27 anos, criada no Morro da Providência, em Niterói, vem desafiando as tendências da sociedade desde pequena e com uma já longa carreira no funk, atinge espaços que ela mesmo jamais pensou que um dia iria chegar.
Em entrevista emocionante à revista Elle, a cantora contou sobre sua infância e sobre os desafios de ser fora dos padrões desde pequena: ”A escola é muito dura pra uma criança preta e pra uma criança gorda, sabe? Quando você é criança, você não entende por que é excluída, maltratada, apelidada. Quando te explicam os motivos, quando você entende que é por causa da sua cor, do seu corpo, você fica sem chão”.
Expulsa de casa aos 14 anos após a morte de seu avô, a artista disse que foi salva pelo funk e que nele começou a se enxergar de outra maneira, elevando sua autoestima: “Dentro de casa, foi ensinado pra mim que eu era bonita. Meu avô sempre conversou comigo e dizia que eu tinha que ter orgulho da minha cor, de mim, que eu era bonita.[…] Na escola, quem acertasse mais questões de matemática, ia ser a noivinha da quadrilha, e eu fui a que pontuei mais. Chegando no dia da apresentação, o menino escolhido para ser o noivinho não apareceu, pois ele tinha que dançar comigo. Fora de casa, foi me passado que eu era uma criança feia, entende? Eu nunca me senti valorizada, uma mulher valorizada. Sempre procurei esconder meu corpo com roupas mais largas, roupas masculinas. Quando comecei a cantar funk e botar muita coisa pra fora em cima do palco, comecei a me sentir mais bonita”, disse a cantora.
A artista também falou e problematizou a diferença entre o reconhecimento que é diferente de acordo com a cor de sua pele: “Eu acho que a gente não é valorizada. Tem um rio muito grande que separa artistas brancos de artistas pretos. Nós não temos as mesmas oportunidades. A gente não é valorizada igual”.
Nesta sexta, Carol também lançou o single “Levanta Mina”, onde ela traz em forma de canção, mensagens sobre a dificuldade de viver contra os padrões impostos pela sociedade. Um trecho da música diz: “É difícil se amar sendo excluída, olhar pra TV e ainda ver paquita. Cadê as gay, cadê as preta, cadê as gorda na capa de revista”.
Nesse belo exemplo de representatividade, Carol encoraja diversas outras a enfrentarem os mesmos desafios que ela enfrentou e enfrentará pelo resto de sua vida e também dá incentivo a outras revistas e veículos de comunicação famosos a darem espaço para pessoas fora do padrão contarem suas histórias.
Confira o novo som de Mc Carol, “Levanta Mina”: