A Lacoste lançou nesta terça-feira(3) uma nova campanha voltada para a chegada de vez da marca no Brasil. Com o lema de “Seja um crocodilo brasileiro”, o novo perfil em português no Instagram publicou uma série de vídeos para dar vida à nova ação, o que gerou uma reação negativa de boa parte do público.
A maior polêmica foi na escolha dos representantes brasileiros da marca. O ator João Guilherme e o cantor Jão foram dois dos três artistas a estampar o jacaré no anúncio, respondendo perguntas sobre coletividade e sobre a própria marca. A modelo Pretta Mesmo foi a terceira representante.
Mas por que a Lacoste optou por artistas que nunca se manifestaram sobre a marca e nem sequer usam as suas roupas no dia a dia?
Essa foi a principal questão levantada. Não é preciso pensar muito para saber que as grifes internacionais têm uma relação distante com a periferia e sua cultura. Mas em um país como o Brasil, onde a diversidade é grande em questões musicais, de etnia, raças e muitos outros aspectos, escolher dois representantes brancos e ricos não parece ‘celebrar as diferenças’, como diz um dos lemas da campanha.
“Vivo sempre longe de polêmica, mas a Lacoste se passou, hein? Não é sobre quem tá, mas quem deveria estar. E esse efeito de ‘tornar invisível quem legitima a marca’ é só a ponta do iceberg, quando falamos de preto e favelado como consumidores em potencial. As marcas fogem disso com o discurso de ‘posicionamento de mercado'”, disse a empresária Nicole Balestro.
Vale lembrar do momento do auge do funk ostentação, no início da década passada, onde a Oakley era a marca mais visada. Os funkeiros foram até a empresa para tentar uma parceria e receber dinheiro/produtos para continuar citando a marca nas músicas, mas a Oakley enviou um representante oferecendo o dobro do dinheiro para que os MCs nunca mais vestissem a marca.
O funk, o rap e o trap fazem propagandas gratuitas da Lacoste nas letras e no estilo dos artistas, que amam desfilar com o jacaré no peito. Portanto, a marca se torna um símbolo de ostentação na quebrada, fazendo com que mais e mais pessoas queiram comprar as suas roupas.
E com a expansão dos gêneros musicais cada vez maior, o alcance da ‘propaganda’ se torna muito maior que qualquer campanha feita pelo Instagram.
Em entrevista ao Uol, o diretor do Data Popular, Renato Meirelles, disse que algumas marcas querem se distanciar do público periférico. “Boa parte das marcas têm vergonha de seus clientes mais pobres. São marcas que historicamente foram posicionadas para a elite e o consumidor que compra exclusividade pode não estar muito feliz com essa democratização do consumo”, afirmou.
Mesmo com algumas ações e parcerias com artistas negros e de quebrada, como o Kayblack, a Lacoste parece estar seguindo o caminho citado por Meirelles, desvalorizando, ignorando e se desassociando da cultura que rende boa parte dos lucros da empresa no país.
Para não se queimar com o ‘público-alvo’, que não quer usar as mesmas roupas que são usadas na favela, parece que vale de tudo.
Confira algumas das reações que a campanha da marca gerou:
A Lacoste colocou um influenciador rico e branco para sua nova campanha. Assim como a Oakley, fica cada vez mais evidente que essas marcas, ao invés de se juntar com o funk e o rap, querem se desassociar da periferia. E só agradecem por receberem propaganda gratuita.
— Felipe Mascari (@felipemascari) August 3, 2021
a lacoste nao merece a representatividade foda que foi criada pra ela, nojo 🤮
— 𝐌𝐀𝐂-𝟏𝟎🧨 (@vkmac_) August 3, 2021